ESG na construção civil: construir com propósito

Por Conexão Construção 14/07/2025 - 12:37 hs
Foto: Sinduscon-MG
ESG na construção civil: construir com propósito
Daniela Pedroza é diretora de meio-ambiente do Sinduscon-MG

Por Daniela Pedroza*

A Construção Civil exerce um papel crucial na economia do país. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o setor superou as expectativas em 2024 com um crescimento de 4,1%, apresentando avanços significativos. No entanto, o setor é, também, historicamente associado a impactos ambientais, riscos à saúde e segurança dos trabalhadores, além de possuir inúmeros desafios relacionados à governança e integridade.

Nesse sentido, integrar práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança) não é apenas uma tendência, e sim, uma necessidade estratégica para garantir perenidade, competitividade e responsabilidade no segmento. O ESG tem como norte a responsabilidade ambiental, o impacto social e as diretrizes de governança. E em consonância com essa mentalidade, o mercado, através de todos os seus stakeholders - como clientes, investidores, poder público e a sociedade de forma geral -, cada vez mais vem exigindo que empresas e organizações sejam conscientes nas suas atitudes e ações, ademais de se tornarem disseminadoras de boas práticas.

Nesse contexto, implementar um adequado Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (definido pela Resolução CONAMA nº 307, de 05 de julho de 2002); desenvolver um Sistema de Gestão Integrado (com base nas normas NBR ISO 9001, NBR ISO14001, ISO45001); e tantas outras certificações, como o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat - PBQP-H, contribuem não só nos processos. Mas também para manter uma gestão ambiental e de segurança. Essas são apenas ações iniciais e básicas que a agenda ESG e a Sustentabilidade Corporativa exigem para um negócio cada vez mais sólido e transparente. 

A pegada ecológica da Construção Civil é mais audaciosa em relação a outros setores, uma vez que o segmento possui expressivo consumo de energia e recursos naturais, além da geração de resíduos e emissão de gases de efeito estufa. Esses são desafios iminentes e urgentes, e a Construção Civil avança positivamente para minimizá-los. 

O setor já incorpora práticas ambientais em suas atividades, como o uso de materiais sustentáveis e recicláveis, certificações ambientais como o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), sistema internacional desenvolvido pelo U.S. Green Building Council que avalia e certifica edifícios com base em diferentes critérios de sustentabilidade e o AQUA-HQE (AQUA-HQE (Alta Qualidade Ambiental - Haute Qualité Environnementale), certificação adaptada ao Brasil baseada na metodologia francesa HQE e implementada pela Fundação Vanzolini. Além disso, adota a gestão eficiente de resíduos de obra, eficiência energética em projetos e edificações, reuso de água e tecnologias verdes. Essas iniciativas permitem reduzir o impacto ambiental, cumprir exigências legais e manter e conquistar consumidores mais conscientes.

A responsabilidade social na Construção Civil começa a partir de várias ações, entre elas o cumprimento rigoroso das normas de Saúde e Segurança Ocupacional (NRs, ISO 45001), o combate ao trabalho em condições análogas às de escravo e práticas de subcontratação precárias, o treinamento e desenvolvimento de mão de obra, a inclusão de mulheres, pessoas negras e outros grupos minorizados e o relacionamento transparente com comunidades impactadas por grandes obras.

Empresas que tratam pessoas com dignidade e se preocupam com as comunidades afetadas pelos seus negócios constroem reputações mais fortes e reduzem riscos operacionais e reputacionais. O setor da Construção Civil, além de ter um papel fundamental na economia, é também um forte gerador de trabalho e renda, o que já traz uma responsabilidade social atrelada aos princípios do negócio: a venda de “sonhos”, que ganham forma, vida e endereço. 

Uma governança eficaz no setor envolve também a gestão transparente de contratos e subcontratações, programas de integridade e compliance, prevenção à corrupção e fraudes em licitações, riscos estruturados e mapeados. Soma-se a isso a diversidade nos conselhos e comitês decisórios com boas práticas de governança para fortalecer a confiança de investidores, clientes e órgãos reguladores.

Muitas das oportunidades e diferenciais competitivos de empresas que adotam ESG estão relacionados às linhas de financiamento com melhores condições, participação em grandes licitações com exigências socioambientais, reputação fortalecida diante do mercado e da sociedade, e resiliência frente a crises e mudanças regulatórias. Na trajetória rumo à implementação concreta da agenda ESG, alguns passos estratégicos indispensáveis incluem realizar um diagnóstico ESG com base em frameworks como GRI, SASB ou TCFD; definir metas claras e integradas à estratégia do negócio; capacitar e qualificar lideranças e equipes técnicas; criar Comitês ESG multidisciplinares, monitorar e comunicar os resultados para stakeholders. 

A Construção Civil tem diante de si o desafio e a oportunidade de ser reconhecido como protagonista da transição para um futuro sustentável e próspero. ESG não é custo: é aquele investimento inteligente que lança os alicerces de um novo modelo de desenvolvimento, onde produtividade, responsabilidade e inovação caminham juntos.

(*) Daniela Pedroza, diretora de Meio Ambiente do Sinduscon-MG