Por que não temos edifícios realmente altos em São Paulo?

Por Conexão Construção 01/08/2017 - 17:06 hs
Foto: Divulgação
Por que não temos edifícios realmente altos em São Paulo?
Com 829 m, Burj Khalifa, em Dubai, é atualmente o maior arranha-céu existente

Por Hamilton de França Leite Jr* 

São Paulo é a cidade com o 11o maior PIB do planeta, mas seu prédio mais alto, o Mirante do Vale, concluído em 1967, ocupa apenas a 2.344a posição no ranking dos maiores edifícios do mundo já concluídos (lista completa em: bit.ly/edificios-altos).

O condomínio Millennium Palace, em Balneário Camboriú (SC), com 177 metros, é o mais alto do Brasil e o 2.034o colocado neste ranking. Com 829 metros, o Burj Khalifa, em Dubai, é atualmente o maior arranha-céu existente, mas ele deverá ser destronado em 2020 pelo Jeddah Tower, na Arábia Saudita, que terá 1 Km de altura.

E quais são os benefícios obtidos pela sociedade com projetos desse porte?

Os arranha-céus sãoconsiderados símbolos de prosperidade, domínio tecnológico e modernidade de um país. Não por acaso, China e Estados Unidos juntos, abrigam cerca de 60% dos 123 edifícios super-altos (aqueles com mais de 300 metros) do mundo.  Para as cidades, servem de marcos, pontos de referência e ajudam a definir sua identidade. Eles incrementam o valor turístico, pois atraem mais visitantes e proporcionam orgulho aos seus cidadãos. Pela perspectiva técnica, quanto mais verticalizadas as edificações, menos ocupam área de projeção no solo. As áreas ao ar livre podem ser aproveitadas para o convívio social e lazer dos moradores e da vizinhança, neste caso, quando abertas para a utilização pública. Também podem disponibilizar mais áreas verdes e permeáveis, importantes para a mitigação de inundações.

Outro ponto positivo é que possibilitam melhor circulação dos ventos entre os prédios e a redução dos efeitos gerados pelo fenômeno conhecido como “ilha de calor”.

Além disso, devido ao rápido processo de urbanização em curso no planeta, as cidades precisam suprir a demanda da população por imóveis. A expansão horizontal nas regiões já urbanizadas reduz a pressão para o alargamento da ocupação humana sobre regiões ainda preservadas. O espraiamento traz consigo outros efeitos indesejados, como a necessidade de investimento público para a implantação de novas infraestruturas urbanas e o tempo perdido com viagens realizadas diariamente pelos moradores das periferias, que geram perda de qualidade de vida, mais congestionamentos e poluição atmosférica.

Quanto mais alto for o edifício, menor a temperatura externa com consequente menor  necessidade de refrigeração do ambiente interno e consumo de energia – e maiores são as intensidades de vento, que podem viabilizar a geração de energia eólica em suas estruturas.

As Leis de Uso e Ocupação do Solo de São Paulo foram aprovadas em 2004 e 2016, durante gestões do Partido dos Trabalhadores, com baixos gabaritos de altura para as edificações em todo município. Para que empreendimentos realmente altos se tornem realidade, são necessárias legislações urbanísticas baseadas em critérios técnicos sem preceitos ideológicos, que permitam construí-los em algumas regiões, localizadas fora dos corredores de tráfego aéreo.

A indústria imobiliária domina as tecnologias construtivas, possui capacidade empresarial e tem acesso aos recursos financeiros necessários para empreender estes ícones urbanos contemporâneos. E, nós que vivemos em São Paulo, desejamos experimentar o sentimento de orgulho e colher os benefícios socioeconômicos por eles oferecidos.

(*) Hamilton de França Leite Jr., é diretor da Fiabci-Brasil e Executivo da Universidade Secovi-SP