Cenário geopolítico atual representa um grande desafio para empresas de construção e engenharia

No ambiente volátil de hoje, a transformação digital não é mais uma opção para empresas de EPC, e sim uma necessidade estratégica

Por Conexão Construção 13/05/2025 - 09:31 hs
Foto: Wood/Aveva

Por Greg Pada*

Em um mundo de crescentes tensões geopolíticas e políticas imprevisíveis, a economia global está se preparando para mudanças constantes e repentinas. O atual governo dos EUA introduziu tarifas sem precedentes e mais estão em andamento, interrompendo as entregas internacionais de materiais e as cadeias de suprimentos.

Essa mudança na ordem global afetará profundamente as empresas de EPC (Engineering, Procurement and Construction), dada a sua dependência natural de componentes globais com longos prazos de entrega e prazos apertados. Os epecistas, como são chamados, também estão enfrentando pressões crescentes devido ao aumento de custos, à escassez de mão de obra qualificada e às demandas de sustentabilidade. Em meio a essas variáveis de alta pressão e elementos mutáveis, os epecistas devem manter agilidade e flexibilidade para concluir projetos no prazo e dentro do orçamento.

Embora as tecnologias modernas possam atenuar a imprevisibilidade das mudanças políticas e restrições orçamentárias até certo ponto, o segmento de EPC - tradicionalmente conservador - tem sido lento em adotar a transformação digital.

No ambiente volátil atual, a digitalização não é mais uma opção para os epecistas, e sim uma necessidade estratégica. E os desafios enfrentados por eles são inúmeros, urgentes e cada vez mais complexos.

A execução fragmentada de projetos geralmente leva a ineficiências e retrabalho dispendioso, enquanto cadeias de suprimentos voláteis podem dificultar a aquisição de materiais e estender os cronogramas do projeto. Além disso, a escassez de mão de obra pressiona a retenção de conhecimento e pode comprometer a continuidade do projeto.

O setor também é afetado por tecnologias obsoletas, dificultando significativamente a colaboração e a tomada de decisões eficazes. Além disso, sistemas isolados prejudicam a conectividade, a visibilidade e a transparência, que são elementos essenciais de soluções de alta produtividade baseadas em IA (Inteligência Artificial).

A boa notícia é que a adoção da tecnologia pode mitigar significativamente os obstáculos para os epecistas. Segundo a McKinsey, a implementação de ferramentas digitais pode aumentar a produtividade em 14% a 15%, enquanto reduz os custos em 4% a 6%.

Resiliência e agilidade em tempos acelerados

A transformação digital pode abordar desafios de EPC profundamente enraizados, permitindo que as empresas desenvolvam resiliência e agilidade cruciais.

Primeiro, as tecnologias baseadas em nuvem estão transformando a maneira como as equipes de engenharia colaboram. Ao unificar os processos de engenharia e permitir a execução colaborativa de projetos, os epecistas podem quebrar barreiras geográficas e organizacionais. Essa colaboração radical acelera a tomada de decisões e otimiza os fluxos de trabalho, garantindo que as equipes do projeto sejam mais ágeis e melhor equipadas para lidar com tarefas complexas.

Além disso, a automação com a integração da IA está transformando o cenário desse setor.

Ferramentas baseadas em Inteligência Artificial melhoram a precisão da engenharia, reduzindo o risco de retrabalho e minimizando custos imprevistos. Ao otimizar processos rotineiros e fornecer insights baseados em dados, essas tecnologias aumentam a eficiência e liberam recursos humanos valiosos para tarefas mais estratégicas.

Ganhos colaborativos dos gêmeos digitais

Com um fluxo de trabalho de engenharia integrado, as empresas de EPC podem criar um gêmeo digital de seus projetos que abrange os estágios de design, engenharia e entrega. Gêmeos digitais são representações virtuais em tempo real de ativos físicos, processos ou ambientes que se assemelham e se comportam como suas contrapartes do mundo real. Eles permitem que os engenheiros simulem, prevejam e otimizem o desempenho do projeto.

Ao combinar dados do projeto e operações de todo o ciclo de vida da engenharia e aprimorá-los com modelagem de primeiros princípios e análises baseadas em IA, os gêmeos digitais podem fornecer às equipes inteligência industrial abrangente sobre valor e sustentabilidade.

O poder de um gêmeo digital é claramente refletido em sua economia de custos demonstrável. A McKinsey projeta que a implementação de gêmeos digitais pode levar a reduções de despesas operacionais de até 20%.

Após a entrega do projeto, os gêmeos digitais também podem oferecer benefícios significativos aos clientes de EPC durante a fase de operação e manutenção (O&M). Os gêmeos digitais garantem que os usuários finais recebam não apenas um ativo estático, mas um modelo digital vivo e em evolução que promove desempenho de longo prazo, menor custo total de propriedade (TCO) e vida útil maior para os ativos.

Como resultado, os clientes estão solicitando, cada vez mais, que os epecistas utilizem um gêmeo digital para obter entregas mais tranquilas e operações otimizadas — um cenário vantajoso para todas as partes interessadas.

Digitalização em ação

Os benefícios práticos da transformação digital já são evidentes no setor EPC. A escocesa Wood, sediada em Aberdeen, integrou perfeitamente dados de engenharia e de execução de projetos de capital para que suas equipes possam colaborar de forma aberta e flexível.

Ao melhorar a colaboração, a empresa simplificou os ciclos de execução e os processos de construção. A Wood também gerou economias de custos significativas ao padronizar materiais e otimizar processos de design.

Com o desenvolvimento de sua Torre de Controle Digital, as equipes da Wood contam com gêmeos digitais para usar materiais de forma mais eficiente e planejar a construção. O software de reconhecimento de padrões internos, por exemplo, pode prever atrasos no projeto e garantir que o desempenho permaneça dentro do cronograma.

Na Índia, a L&T Hydrocarbon Engineering deu um salto digital significativo ao aumentar a colaboração e a compreensão durante uma entrega crucial para a maior produtora de petróleo bruto do país, a Oil & Natural Gas Corporation (ONGC).

A L&T, especializada em projetos EPC upstream para a indústria de Óleo & Gás, já havia percebido os benefícios da abordagem centrada em dados da ONGC para entrega de projetos, e é por isso que a empresa tomou sua própria iniciativa para definir e implementar um único repositório de dados.

O projeto, ao mesmo tempo, simplificou a comunicação e a tomada de decisões, integrou perfeitamente modelos 3D e dados de engenharia, e facilitou a busca on-line eficiente para navegação, consulta, classificação, consolidação e geração de relatórios mais rápidos.

O resultado foi uma solução de transferência de dados de alto desempenho que unificou diversas fontes de dados para atender melhor às necessidades do maior produtor indiano de petróleo bruto.

Prosperando em meio à incerteza

Empresas de EPC com visão de futuro que adotam a digitalização equiparão suas equipes com a agilidade e a flexibilidade essenciais para prosperar em condições voláteis.

Dessa forma, elas irão transformar desafios operacionais em oportunidades estratégicas, aproveitando a colaboração baseada em nuvem, a automação com tecnologia de IA e gêmeos digitais.

Execução mais rápida de projetos, melhor trabalho em equipe e economia de custos tangível estão ao alcance com as tecnologias disponíveis hoje. E os epecistas que prosperarão na nova e dinâmica ordem mundial serão aquelas com a adaptabilidade necessária.

(*) Greg Pada, vice-presidente sênior dos Negócios de Engenharia da Aveva