Mineração: Qual o espaço para a engenharia local?

Por Conexão Construção 28/06/2017 - 16:57 hs

Por Alexis Yovanovic*

O subsolo brasileiro está sendo tomado por empresas estrangeiras (mais de 30%, levantado em 2012). No México, empresas de capital canadense controlam 76% dos projetos de exploração e extração mineral daquele país. O capital financeiro manda no mundo e também na mineração, avançando a passos agigantados sobre as reservas e direitos minerários na América Latina.

A engenharia local perde espaço e oportunidade para contribuir com inovação e criatividade em favor do Brasil. Estudos de viabilidade até o projeto básico ficam normalmente em mãos de empresas de engenharia e consultores estrangeiros. A preparação do NI43-101 (exigência das bolsas canadenses) considera apenas instituições estrangeiras para nomear pessoas qualificadas (QP) para assinar esses estudos, mesmo em projetos a serem implantados aqui no Brasil.

Embora haja exceções, os projetos chegam de fora como rolo compressor, com tecnologia baseada no gigantismo e na utilização de paradigmas ultrapassados; também, com falta de criatividade e customização com a realidade local, além da fraca sensibilidade com as comunidades e meio ambiente. Em parte, o clima de corrupção política e empresarial permitiu que essa falta de credibilidade em relação ao Brasil chegasse hoje também até a engenharia.

A engenharia brasileira está ficando cada vez com menos espaço para pesquisar, testar, avaliar, estudar, inovar e projetar sequer os seus próprios minérios. Embora haja exceções, há muitos colegas em atitude de proteção do seu emprego e zona de conforto, evitando inovações, mudanças ou qualquer nova opção tecnológica local sobre o processo.

Mesmo havendo melhores opções, a Samarco insiste em retomar a operação como o vem fazendo há quase 40 anos. O projeto Minas Rio avança pela mesma senda, o que constitui um fato mais grave, pois este projeto (com menor teor de ferro) gera muito mais rejeito ultrafino que a Samarco. Belo Sun quer instalar na Amazônia um moinho SAG gigante (projetado e já comprado no Canadá) e moer tudo o ROM finamente para agregar cianeto, com a única contestação da comunidade indígena local.

É difícil ficar parado assistindo a grave crise que vivemos no Brasil e particularmente na mineração, sem poder questionar, criticar ou contribuir. Qual o espaço para a engenharia local na mineração brasileira?

(*) Alexis Yovanovic, diretor Técnico da Mope Processos Minerais